Receita da desgraça
Ingredientes:
- Presidentes da república, primeiros-ministros, ministros e deputados: quantidade à escolha (a qualidade pouco difere)
- Licenciaturas por equivalência e dominicais: as que descobrir
- Megalomanias: bastantes
- Complexos: muitos
- Casos vergonhosos: numerosos
- Negócios obscuros, troca de favores e corrupção: abundantes
- Promessas – Mentiras: várias dúzias
- Temperos: Ambição, ganância, falta de vergonha e de palavra
- De: um
- Euro: suficiente para agrilhoar
Preparação:
Numa tigela bem funda, misture fartas quantidades de presidentes da república, primeiros-ministros, ministros e deputados (atenção que há uns que costumam fugir) e bata firmemente. Ponha pitadas de licenciaturas por equivalência e dominicais.
Numa taça à parte misture as megalomanias com os complexos, dois ingredientes que se fundem na perfeição rapidamente. Verta esta mistura a pouco e pouco na massa anterior.
Junte uma miscelânea de casos vergonhosos, mas incluindo sempre BPN, BPP, PPPs e fundações, mais negócios obscuros a gosto, troca de favores e corrupção com fartura e continue batendo, sem parar. Se gostar, use compadrios.
Entretanto, separe as mentiras das promessas e bata estas últimas em castelo bem firme (não tenha medo da força que aplicar).
Junte as mentiras à massa, misture bem e quando a massa estiver consistente, incorpore as promessas suavemente mas de modo a ficarem bem ocultas.
Use os temperos indicados acima da seguinte forma: ambição sem fim, ganância a rodos, falta de vergonha e de palavra em abundância.
Unte à força com euro uma forma de tipo Europa que tenha um buraco bem grande. Lembre-se que a forma Europa tem a característica de roubar soberania a qualquer receita.
Leve a forno bem quente o tempo que lhe apetecer. Retire e deixe esfriar. Guarde no frigorífico e desenforme a cada quatro anos.
Enfeite com um de bem definido, na certeza de que na mesa passará a da, e sirva.
Sabe a pouca vergonhice oligárquica, impunidade, austeridade, sobrecarga fiscal, desemprego e pobreza.
Tem sido esta a receita portuguesa mais típica. Vamos alterá-la?
Leonor Martins de Carvalho
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