domingo, 6 de outubro de 2013

O Branqueamento da História da Primeira República: A Celebração da Ignomínia






"Bandidos da pior espécie, (...) gatunos com o seu quanto de ideal verdadeiro, anarquistas natos com grandes patriotismos íntimos - de tudo isto vimos na açorda falsa que se seguiu à implantação do regime [republicano]." - Fernando Pessoa (1888 - 1935)

Todos os anos a 5 de Outubro, assistimos à repetição do mesmo ritual que não só já cansa, como se tornou entretanto demasiado caro para os bolsos do típico contribuinte português. A Terceira República Portuguesa - um regime gasto, corrupto e a cair de podre - celebra a imposição da sua antecessora em 1910 através de um golpe de Estado maçónico. Multiplicam-se por estas alturas os congressos e as conferências em que a Primeira República é romanticamente apresentada como o "ideal perdido". Nas escolas, a pouca história que ainda se vai ensinando raramente aborda "o outro lado" da Primeira República. Quem escreve os manuais de história, é sempre muito rápido em dedicar páginas inteiras às torturas e prisões arbitrárias feitas pela PIDE/DGS durante o Estado Novo, mas sobre as torturas e prisões arbitrárias levadas a cabo pelo regime republicano - de imposição e inspiração maçónica - aí já poucos tocam no assunto...

A Primeira República transformou a ditadura no seu modus operandide governação, e na prática esta alternou sempre entre a supressão das liberdades e o anarquismo bombista. Quando o Partido Republicano foi fundado em 1876, os partidários das ideias republicanas não passavam de uma pequena seita que muitos tomavam por idealistas "lunáticos" e "utópicos", concentrados principalmente em Lisboa, Porto e Coimbra, fora destes centros urbanos praticamente ninguém os conhecia. Fundado pela Maçonaria como uma via para atingir o poder absoluto, o Partido Republicano apenas se conseguiu desenvolver mais a sério a partir de 1890, devido em parte ao Ultimato Inglês com o qual o Partido Repúblicano capitalizou e por outro lado, devido à crise que a monarquia já vinha atravessando desde o início do século XIX e que se agudizou nos finais do mesmo.

O "braço armado" do Partido Repúblicano foi a Carbonária, um autêntico grupo terrorista na verdadeira acepção do termo, cujo objectivo era levar a cabo acções violentas e clandestinas. Foi esta mesma carbonária que veio a assassinar o Rei D. Carlos e o seu filho em 1908 e dois anos depois, desgastada por tanto caos e desordem, a monarquia constitucional acabou derrubada por via de um golpe de estado maçónico.

Ao contrário da mentira soarista e maçónica tão propagada para enganar os mais ingénuos e desconhecedores da verdade, a Primeira República não deu o sufrágio universal aos portugueses como é comummente aceite. Ao invés, inicialmente foi mantido o sufrágio censitário herdado da monarquia constitucional e logo em 1913, Afonso Costa reduziu para metade o número de eleitores. Por outro lado, quando havia eleições era muito comum haver capangas ao lado das urnas de forma a garantir o resultado "adequado"...

Outro dos alvos a abater pelo Regime Repúblicano foi a liberdade de imprensa que praticamente nunca havia sido restringida durante a monarquia constitucional. Bem pelo contrário, os republicanos durante a monarquia constitucional sempre tiveram toda a liberdade para imprimir e distribuir todos os pasquins e panfletos anti-monárquicos que quiseram. Mas uma vez chegados ao poder, não tardou para que estes "cospissem no prato em que comeram" e dessem início a uma campanha violenta contra a liberdade de imprensa. Por exemplo, era "normal" grupos de capangas como o da "formiga branca" tomarem de assalto e vandalizarem as sedes dos jornais dos seus opositores políticos.

Para além do grupo da "formiga branca", havia inúmeros outros grupos armados que funcionavam como "braços armados" do grupo político ao qual estavam ligados. Tínhamos assim o grupo do "Pinto", o grupo do "Ai-ó-Linda", a "Camioneta Fantasma", etc... Todos estes grupelhos funcionavam como pequenas células terroristas cuja única função era a de espancar, intimidar e destruir bens materiais pertencentes aos seus opositores políticos. 

O próprio regime Republicano também tinha na sua estrutura legal duas forças de polícia nas quais confiava para "tratar" dos opositores do regime, nomeadamente a Polícia Preventiva e a Polícia de Emigração criadas em 1918 e que posteriormente vieram a ter uma evolução vária.

A Igreja Católica, que os republicanos haviam jurado exterminar em duas gerações, foi marcada como outro alvo a abater pelos mesmos. A fanática perseguição ao clero que se seguiu à implantação da república, assim como a humilhação a que muitos membros do mesmo foram sujeitos, não tardou a semear ódios entre a população que era à época profundamente católica e via com maus olhos esta afronta às suas tradições.

Em apenas 16 anos, a Primeira República conseguiu o "mérito" de ter tido oito chefes de Estado, 52 governos, oito parlamentos e 11 ditaduras! Dos oito chefes de Estado, um foi assassinado, dois foram exilados, um resignou, dois renunciaram e um acabou destituído. Foi toda esta loucura e desordem político-social que levou as Forças Armadas a derrubar a Primeira República a 28 de Maio de 1926. Os partidos políticos, que se haviam transformado num autêntico cancro da Nação, foram mais tarde ilegalizados pelo Estado Novo, por culpa única e exclusiva do seu péssimo comportamento que havia deixado Portugal à beira do abismo.

A Primeira República não conseguiu realizar quase nada daquilo a que se havia proposto em 1910 e a sua tão badalada "panaceia universal" para resolver todos os males da Nação traduziu-se através da miséria moral a que reduziu a política, em conjunto com o facto de ter deixado Portugal financeira e economicamente na sarjeta. Todo este desastre só podia inevitavelmente vir a desembocar numa ditadura como a do Estado Novo que se veio a consolidar definitivamente em 1933 e que se pautou pelo anti-parlamentarismo, anti-liberalismo e anti-marxismo como formas de inverter os males provocados pela Primeira República à Nação portuguesa.



João José Horta Nobre
Outubro de 2013